terça-feira, dezembro 25, 2007

 

Viva

Muitas vezes nos perguntamos se a nossa civilização tem melhorado nestes milhões de anos.
Certamente que sim. Partimos de uma barbárie total para um grande progresso tecnológico, social e moral.
Apesar dos problemas que vivemos ainda não podemos nos esquecer que poucos séculos atrás homens se encontravam numa estrada deserta e um deles resolvia matar o outro, roubar seus pertences e a montaria. O corpo sem vida era atirado numa vala e nunca mais se ouvia falar nele, não havendo a mínima possibilidade de seu assassino ser julgado.
Cotidianamente vivemos grandes problemas decorrentes da desigualdade social que diferencia países ricos e pobres, e homens ricos e pobres.
Outro problema que atinge a nossa vida é a estandardização dos usos e costumes, até mesmo dos comportamentos.
Pobre da mulher brasileira, geneticamente cheia de curvas, que recebe através da mídia avassaladora informações que a mulher ideal dos nossos tempos baseia-se nas modelos internacionais famélicas e nas celebridades que povoam os boletins televisivos...
Mesma coisa acontece com a indumentária, com as mocinhas se enfiando em calças de cintura baixa que irão deformar-lhes o corpo para sempre.
E o que não dizer do adolescente que não domina a informática e que é um humilde monoglota?
Não vencer as barreiras e formar-se num curso superior, mestrado, doutorado, é desastroso e pode liquidar uma existência.
Tais tipos de comportamento estereotipados atingem agora os idosos. Como seres vivos, biologicamente estamos destinados a um ciclo que se inicia na fecundação, passa pela maturidade e termina com o envelhecimento e morte.
Gostaria muito de viver como uma árvore que atinge tranquilamente três mil anos de existência. E você, leitor?
Toda vez que toco neste assunto lembro-me de três idosos com quem mantive muito contato.
Minha avó Nair, que viajava para a casa dos filhos e estando em Lavras, após o almoço atendia sua vaidade e passava um discreto rouge, munia-se de uma sombrinha e enfrentava morros e mais morros,num roteiro de visitas sem fim.
A outra, minha mãe Maria, que com o marido acamado, só lamentava a impossibilidade de passar uma temporada nas praias de Guarapari ou Rio de Janeiro.
Meu amigo, Paulo Hermínio da Costa, primeiro engenheiro de Furnas Centrais Elétricas S/A, que depois de aposentado dedicou-se a defesa dos companheiros de trabalho e as artes gráficas.
A morte levou estes octogenários de surpresa, sem grandes sofrimentos e o que é mais importante, lúcidos e felizes.
Um programa que foi criado para impedir que idosos sofressem o preconceito e a segregação social acabou virando o modismo da terceira idade e até mesmo do eufemismo da melhor idade...
Assisti um excelente filme de produção argentina, que trata muito bem deste assunto da velhice que todos nós enfrentaremos, queiramos ou não.
Em Elsa e Fred, dirigido por Marcos Carnevale, Fred (Manuel Alexandre) tem mais de 80 anos e descobre que está doente. Quando ele conhece uma nova vizinha, a saliente Elsa (China Zorrilla) - também na casa dos 80 anos -, descobre que nunca é tarde para realizar sonhos e viver novas experiências. Mesmo que fujam do cotidiano e sejam mesmo um tanto perigosas.
Esta comédia romântica é a comprovação de que o importante é que você viva. E muito.

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