quarta-feira, fevereiro 01, 2006

 

Pobre Zé da Silva

Nosso personagem não é necessariamente um pé rapado, ganhando salário mínimo. Na verdade pode ser um operário qualificado, advogado, economista ou engenheiro.
A vida do Zé da Silva sempre foi atribulada.
Na década de sessenta conheceu um livreto intitulado Um dia na vida do Brasilino, de Paulo Guilherme Martins.
Lá aprendeu que no Brasil existia um desenfreado imperialismo econômico, principalmente norte-americano.
Por causa desta publicação que um amigo lhe deu, o Golpe de 1964 o prendeu e o jogou em um batalhão da Polícia Militar.
Mas, o tempo passou e depois da globalização não se falou mais sobre este assunto.
Vira e mexe recebia folhetos do sindicato que diziam que o Brasil tinha uma das piores qualidades de vida do mundo, má distribuição de renda e sem falar da pobreza endêmica...
Foi então que uma sucessão de fatos estranhos caiu sobre Zé da Silva e o pobre povo brasileiro.
No começo foi a tal crise política, com denúncias pipocando de todos os lados, da qual ele não entendia muito, mas de que tanto ouvir falar na televisão passou a considerar uma grande sacanagem.
Depois veio aquele presidente da Câmara dos Deputados que de tão orelhudo parecia um extraterrestre e que resolveu levar uma gorjetinha para casa.
Assustou-se, e muito, com o tal do referendo sobre a comercialização de armas. Não queria que as pessoas andassem armadas, mas também não concordava que lhe tirassem o direito de ter uma arma...
Ficou sentado, rezando para Santa Bárbara, pedindo que ela afastasse do Brasil aquele furacão que devastou uma cidade inteira nos Estados Unidos.
Foi então que veio a pior notícia.
Um juiz do Campeonato Brasileiro preso e confessando ter roubado o resultado de pelo menos onze jogos.
Desde criança ouvia falar que todo juiz era ladrão e no campeonato de bairros em cada jogada duvidosa xingavam a mãe de sua senhoria, o arbitro, e diziam que havia levado uma nota do adversário...
Sem falar nas histórias de homens que viajavam o Brasil de ponta a ponta levando malas cheias de dinheiro para fabricar resultados...
O que fazer? O único divertimento garantido no final de semana sobre suspeita?
Muitos entenderam que isto poderia mesmo ser uma forma de tirar a atenção sobre o assunto principal, que era mesmo a tal de crise política, mas o Zé da Silva nem pensou nisso preocupado mesmo com os problemas causados ao Campeonato Brasileiro.
Na verdade continuava cada dia ganhando menos, principalmente se seu salário fosse confrontado com as suas necessidades consumistas.
E os filhos andando para lá e para cá, sem destino, sem escola e sem emprego...
Mas tudo isto era um mal menor perto dos problemas do futebol...
Quando pensou que tudo de ruim já havia acontecido ficou sabendo que o leite das crianças e a carne de em vez em quando estavam ameaçados pela febre aftosa! Ninguém lhe disse que a doença não contagiava seres humanos e que o preço destes produtos tenderia a cair...
Mal informado Zé da Silva por pouco não se atira no Rio Grande, principalmente ao saber que o seu querido Clube Atlético Mineiro estava na tábua da beirada...

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