segunda-feira, janeiro 16, 2006

 

Sô feia mas tô na moda

Graça a Deus vi o poetinha Vinícius de Moraes várias vezes, em teatros, bares do Rio de Janeiro e mesmo em Lavras exibindo-se.
Hoje está sendo reconhecido não como poetinha e letrista da Bossa Nova mas como um poeta maior.
Vinícius de Moraes não era o protótipo do homem bonito. Baixinho, barrigudo, careca e com óculos tipo fundo de garrafa.
Pois é. Ele mesmo criou um dos versos mais preconceituosos da cultura brasileira: as muitas feias que me perdoem, mas beleza é fundamental.
Reconheçamos que ele dizia isto de uma forma doce e fazia disso um compromisso. Suas mulheres sempre foram lindas! E olha que não foram poucas...
O documentário Vinicius, que tem como protagonista o poeta e compositor já foi visto por 150 mil espectadores e mostra o quanto ele podia ser charmoso e amado pelo público.
É difícil saber o que nele atraía as mulheres. Seria a poesia? A fama de boêmio?
Mas foi preciso que décadas passassem para ficar claro o quanto de engano havia no verso.
Hoje reconhecemos que as feias foram perseguidas inutilmente e que sempre tiveram seu lugarzinho ao sol.
Como a história pessoal de Eustáquio, antigo chefe de estação da Rede Mineira de Viação.
Em suas andanças se apaixonou por uma moça de corpo lindo e belo rosto, a Adelaide.
Noivaram por longo tempo e depois se casaram em Baipendi, aos pés de Nhá Chica.
Foram felizes anos a fio e encheram de choros e risos de crianças uma casa na Rua da Fábrica.
Sem mais nem menos Eustáquio começou a ser corroído pelo bichinho malvado da desconfiança que Adelaide o estivesse traindo.
Procurou Cosme, um segurança da ferrovia que se prestou a fazer o serviço de dar um flagrante na desmiolada.
Estava trabalhando quando ele telefonou dizendo que Adelaide entrara com um homem em um hotel do centro da cidade.
Chegou esbaforido ao local e sem dar confiança ao porteiro foi abrindo porta por porta dos quartos.
Acabou achando os dois encarapitados em uma cama de casal, nus e tão enlevados que demoraram para perceber sua presença.
Abaixou o Colt que levava na mão, virou-lhes as costas e rumou para casa, a boca seca, ardendo.
Despachou a criançada para a casa de uma vizinha e sentou-se na sua cadeira de balanço.
Alta madrugada Adelaide bateu na porta, bêbada e com os sapatos de salto alto balançando na mão.
- Abre a porta, Eustáquio, seu corno manso! – ela gritou.
Levantou, passou a tranca na porta e pela janela do quarto que dava frente para a rua, atirou vestidos, blusas, calças e casacos.
Adelaide ficou caída nas pedras frias do calçamento implorando para entrar em casa.
Eustáquio não abriu a porta e ela acabou indo embora. Morreu de tuberculose galopante quando fazia a vida numa boate de Curitiba.
O chefe de estação se dedicou a criar as crianças até o dia que conheceu Marocas.
Ela vivia pra baixo e pra cima, com um terço na mão, puxando rezas em todas as casas.
Era uma mulher muita feia e desprovida de simpatia.
Ninguém sabe por que Eustáquio gostou do jeito dela, a cortejou e numa manhã fria de abril casaram-se diante do Juiz de Paz, a criançada perfilada, vestida com as melhores roupas e com cara de quem não está entendendo nada.
Ficaram juntos e tiveram muitos filhos.
A quem lhe perguntava por que aquela união dera tão certo, respondia sempre:
- E não havera de ser assim? Com uma mulher tão feia...

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