segunda-feira, janeiro 16, 2006

 

Novos amigos

Várias vezes tenho escrito sobre meu grande amigo Luís Carlos Frizo, que me envia todos o anos um cartão de Boas Festas, guarda com todo cuidado uma cópia do original do meu premiado conto Menkrire autografado e nem por isso temos um relacionamento estreito.
Outro dia fui a Poços de Caldas e depois de anos dei de cara com ele, de surpresa, na fila do caixa de um supermercado. Falamos pouco e prometemos nos encontrar em outra oportunidade.
Esta uma amizade de muitos anos. Mas existem aqueles “novos amigos” que segundo um político de longa data são muito perigosos.
Na sua opinião a crise política que assolou a Nação durante os últimos meses decorre destes aderentes de última hora que acabaram vitimando gregos e troianos.
“São pessoas para as quais a amizade serve apenas como trampolim de sua ambição desmedida”, ele me diz.
Seriam indivíduos que exploram o aspecto mais frágil do ser humano que é a vaidade.
Lembrei-me da história de C.A.M, 53 anos, um comerciante muito conhecido na comunidade.
Começou vendendo bugigangas junto com o pai pelas ruas da cidade, morando num bairro simples e andando com antigos e bons amigos.
Com o passar do tempo alugou uma pequena loja e se estabeleceu na rua do comércio.
Em pouco tempo seu negócio cresceu e se ampliou.
Logo apareceram “novos amigos” que o acompanhavam nas farras do botequim e com lindas mulheres.
Quanto mais aumentavam seus negócios mais “novos amigos” surgiam.
Começou a fazer seguidas viagens com eles e conhecer cidades distantes.
As férias eram agora sempre nas praias mais badaladas e acompanhado da turma...
Acabou arrumando um rabo de saia adolescente que em pouco tempo se tornou sua amante e foram viver num bairro distante, em uma bela casa especialmente comprada para ser seu ninho de amor...
Com ela fez uma viagem maravilhosa a Miami, sempre ao lado de “novos amigos”.
Pouco a pouco os negócios começaram a se complicar com os gerentes de banco a sua porta, forçando-o a procurar agiotas.
Foi vendendo terrenos, casas, na tentativa de se safar do sufoco.
Tudo inútil. Quando deu por si estava falido e os negócios encerrados.
Os “novos amigos” não apareciam mais e a amante o trocou por um bem sucedido dono de bar.
Voltou a morar com a legítima mulher e os dois filhos, que sempre lhe cobravam coisas que não podia explicar.
Em estado depressivo tentou exercer uma nova atividade e a única que conseguiu foi como vendedor de carnês, que abandonou em pouco tempo.
Passou a viver pelas ruas procurando os “novos amigos” que o renegavam e pedindo pequenos valores a pedreiros eletricistas e encanadores que haviam trabalhado com ele.
C.AM, que antes só bebia uísque top de linha passou a consumir cachaça de garrafão, da pior qualidade.
Acabou enforcando-se numa quinta-feira de sol radioso.
Nenhum “novo amigo” compareceu no seu sepultamento.Quem estava lá era sua turma antiga, do tempo de escola e das brincadeiras no bairro...

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