segunda-feira, janeiro 16, 2006

 

ANOS 50

Final de tarde convida ao relaxamento e resolvo assistir o programa Sem Censura, na TV MINAS.
Vejo então a entrevista do jornalista e escritor Joaquim Ferreira dos Santos, que está lançando o livro Em busca do borogodó perdido.
Quem assistiu as chanchadas da Atlântida deve-se lembrar do cômico Zé Trindade, mais feio do que notícia ruim, conquistando mulheres lindas justamente porque tinha borogodó.
Lembro-me que na eletrola Telefunken lá de casa eu ficava grudado no rádio sintonizado na Mayrink Veiga para assistir o Miss Campeonato, com a vedete Rose Rondeli, que era paquerada com o auxílio do mesmo decantado borogodó.
Mas o que era esse tal de borogodó?
Era um certo quê, indecifrável, um charme a mais que individualizava as pessoas, uma coisa meio sem sentido, que rotula os anos 50.
Mais do que a década de trinta, da ditadura de Getúlio Vargas até o governo do General Eurico Dutra, nada mais marcou profundamente um novo Brasil.
Foi quando surgiu a Bossa Nova, de Carlos Lyra, Tom Jobim, Vinícius de Moraes; a Seleção Canarinho de Pelé e Garrincha brilhou na Suécia; Adalgisa Colombo foi Miss Brasil, porque era bonita e gostosa; as certinhas do Lalau arrasaram com as beatas e Maria Esther Bueno apareceu como uma das maiores tenistas de todos tempos. O playboy Jorge Guinle conquistava todas as estrelas de Hollywood que apareciam por aqui no Carnaval. O traje exigido em qualquer brincadeira dançante era o terno. Difícil mesmo era ver os joelhos das mulheres...
JK assumiu o poder e com seu Plano de Metas começou a realizar o futuro por todos sonhado.
Por mais defeitos que o presidente tivesse, do Zé Povinho as elites todos se apaixonaram por ele.
De repente o país deixou de ser aquela coisa desenxabida que só aparecia em filmes de segunda categoria de Hollywood.
Ninguém se preocupava mais com Carmem Miranda, seus balangandãs e sua dança sem calcinhas ou com a polegada a mais de Martha Rocha.
De uma hora para outra ser brasileiro deixou de ser um fato vergonhoso e tornou-se o orgulho dos desesperados.
JK preocupava-se com energia elétrica, comunicações, rodovias modernas e pasmem, até mesmo com a construção de uma nova Capital Federal no Planalto Central.
Na casa do meu pai eu lia na revista semanal O CRUZEIRO, dos Diários Associados, o jornalista David Nasser desancar o presidente e sua equipe, sempre o chamando de ladrão. E tio Roberto Coimbra nos mostrava uma charge no CORREIO DA MANHÃ em que arqueólogos do futuro tentavam decifrar, no futuro, as ruínas de Brasília...
Nunca fiquei sabendo que JK processasse estes ou outros jornalistas..
Ele continuava viajando em modernos Constelations pelos céus do Brasil, tremendo pé-de- valsa e grande namorador que era.
Pouco importava que a inflação estourasse, afinal de contas poucos sabiam o que ela significava.
Oposição mesmo só da aguerrida UDN, de Carlos Lacerda...
Mas de que adiantava criticar o governo se a população adorava aquele presidente que trazia a indústria automobilística e a promessa de mais empregos?
Com ele, que tinha muito borogodó, o Brasil começava a trilhar o caminho da roça para a cidade...
E tudo ia as mil maravilhas, pois estávamos longe ainda da radicalização que marcaria as próximas décadas.
O poucos meses de Jânio Quadros no poder foram desastrosos.
Não houvesse o Golpe de 64 e com certeza o PSD daria um banho na UDN e elegeria JK novamente presidente da República.
Um homem que significou muito para o País e acabou morrendo de forma banal e misteriosa num desastre automobilístico na Rodovia Dutra.
O destino quis que o borogodó desaparecesse...
São histórias da vida.

Comments: Postar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?